Postinho,final dos anos 40

andredecourt's foto van 27-5-04

Hoje teremos um post a quatro mãos

Um posto de gasolina que deveria ser tombado
Jason Vogel
O Postinho, na esquina de Vieira Souto com Jardim de Alah, começou a se tornar ponto de encontro da turma que gostava de carros no começo dos 50. Na época, o Circuito da Gávea (corrida pelas ruas do Leblon e da Rocinha) ainda era uma prova do automobilismo internacional e a área era muito menos movimentada do que hoje. Pois uma turma se reunia no posto – que sempre teve bandeira da Esso – e daí saía pra medir forças. Muitas vezes, usavam o próprio percurso do Circuito da Gávea para avaliar a preparação dos motores ou apenas correr por um pouco de adrenalina.
O Circuito da Gávea acabou em 54, mas o postinho continuou a atrair cada vez mais aficionados por velocidade. Mecânicos, apaixonados por carros, gente que ia trocar uma idéia sobre preparação ou apenas bater papo. Vieram a indústria nacional, os anos 60, e cada vez mais gente tinha carro: Simca, Gordini, Karmann-Ghia, DKW e Fusca roncavam envenenados pela área, antes de partirem para pegas e disputas de arrancada na deserta Barra da Tijuca.
No finalzinho dos anos 60, houve uma transformação: com a chegada das motocicletas japonesas ao Brasil, a turma das quatro rodas deu lugar aos apaixonados por máquinas como Kawasaki 900, Honda 750 Four, Suzuki 380 ou Yamaha RD350, a “fazedora de viúvas”… O pessoal se reunia no canteiro do Jardim de Alah, bem na frente do Posto – não era raro juntar cem motos no local. Nos finais de semana, ali era o ponto de partida para viagens para a Região dos Lagos, por exemplo. A qualquer dia, aí por volta das 22h, começavam as saídas para passeios acelerados pelo Alto, ou mesmo um bate-e-volta pela Rio-Petrópolis.
Em tempos de plena liberdade sexual, havia moças que ficavam sentadas no muro, doidas por um passeio de moto que invariavelmente terminava no Motel Tokio, o mais barato da Barrinha. E havia a turma da chamada “pastelaria”, que só queria curtir um passeio devagar em duas rodas.
O declínio veio na segunda metade dos anos 70, curiosamente quando as motos nacionais (em especial, a Honda CG125) começaram a ser fabricadas. Com a popularização, não havia mais a velha aura do círculo fechado de motociclistas… Eram tempos de doideira, e a área em frente ao Postinho virou ponto de venda de pó e maconha, aumentando a repressão policial no pedaço. Aí por volta de 1980, a turma dispersou de vez e o point das duas rodas (incluindo as recém-chegadas nacionais) passou a ser o Arpoador.
Mas vaivém motociclístico no Arpoador também não durou muito. No verão de 82, foi levantado o Circo Voador, bem no lugar onde o pessoal parava suas Hondas e Yamahas. Depois, fizeram o calçadão e o tráfego foi interrompido, acabando de vez com a brincadeira. A turma se espalhou.
Hoje, o velho Postinho está com sua arquitetura da década de 40 descaracterizada, mas resiste bravamente à especulação imobiliária, ao contrário de tantos outros postos da orla que deram lugar a prédios nos últimos 30 anos. Devia ser tombado, pelas memórias que guarda.
Esse texto faz parte do especial do Globo On sobre os 110 de Ipanema
Quem comenta agora sou eu…..
Podemos ver como o posto era interessante, tinha estilo neo-colonial muito em voga naquela época, e o mais interessante é quase um irmão gêmeo dos prédios mais antigos do clube Caiçaras, essa foto deve ser entre 1946 e 1953, primeiro pois há uma geladeira de Coca-Cola e ela só começou a ser vendida aqui maciçamente logo após a guerra sendo meu avô um dos primeiros químicos industriais da empresa no Brasil, e no máximo em 1953 pois bem no extremo esquerdo da foto vemos um pedaço de um poste de iluminação pública, ainda pintado de preto e temos aqui no arquivo de família várias fotos do Jardim de Alah a partir de 1953 onde os postes já são pintados de cinza-claro

Comments (22)

dinho_sp 27-5-04 10:22 …
C**… Meu, que post legal!!!!!!! Viajei lendo esse texto!! Gostei demais!!!!! Valeu!!!! Grande abraço!!!
🙂
jro 27-5-04 10:24 …
É isso ai!!
Nsci no quarteirão vizinho, na Prudente de Moraes, numa época que ainda não existia a ponte ligando Ipanema ao Leblon.
Fui muito ao Postinho no início dos 70, e participei de vários destes “passeios” ao Alto da Boa Vista e Petrópolis.
Eram loucuras menos loucas do que as loucuras de hoje…
JRO :-)))
rbpdesigner 27-5-04 10:24 …
queria muito ter feito parte dessa época de ouro…
liberdade sexual? Tb não era mal não… he he
conheço pessoas que corriam nesse circuito
muito bom o texto
[]s
fabinhow 27-5-04 10:26 …
Adorei o post!
riobus 27-5-04 10:41 …
boa andré!!
PRFRAGOSO 27-5-04 10:46 …
André,
Você vai fundo mesmo nesse lance de “descobrir” a data das fotos, hein? Situar entre 1946 e 1953 tomando por base os objetos e pequenos detalhes que aparecem, foi o máximo!
almacarioca 27-5-04 10:57 …
Essa é a minha praia.
jro 27-5-04 11:52 …
Um dos bons restaurantes do Rio ficava ao lado do posto, na Epitacio Pessoa, o Alpino (comida alemã)
JRO :-))
andredecourt 27-5-04 11:54 …
Meu pai fala muito dele, mas era frequentador mesmo do velho Lucas
jconde 27-5-04 13:33 …
Recordar é viver, seu flog faz isso como nenhum outro, um abraço do Zé
Antolog 27-5-04 14:27 …
Bastante interessante, tanto a foto como a estória. Seria muito difícil o posto permanecer com esta estrutura nos dias de hoje.
oz65 27-5-04 15:00 …
Deveria ter sido tombado mesmo! Parece cenário de filmes dos anos 50! Sensacional!!!
Abração, André!
jro 27-5-04 17:37 …
Voce já foi lá, eu li, mas a foto aérea de Ipanema do /tumminelli é uma viagem !!!
JRO :-)))
osovacodacobra 27-5-04 17:42 …
Legal a foto.
eduardo bertoni 27-5-04 18:12 …
Hoje vocês bateram fundo no meu velho coração.
Guardo na lembrança momentos incríveis vividos no Postinho no início da década de 60. Ficávamos horas fazendo ou vendo os amigos fazerem a “curva do postinho” que era entrar no Jardim de Alá vindo da Vieira Souto.Era um tempo de farura e, não raro, a gente gastava um jogo de Pirelli Cinturatto por mês nos nossos Fuscas , DKW, Karmann Ghias etc…êta saudade braba!!!
Onde andarão os meus amigos daquela época? Será que algum deles visita este flog? Marcio Cambalhota, Tartaruga, Hélio e Décio Mazza, Paulo Cesar Simas, Mariozinho Kroeff, Dadinho Marcondes Ferraz, Caio Mauro, Emanuel da auto eletro, Norman Casari, Márcio Braga, Fidelis Amaral, Claudio Lins, Arditti , Theodoro Divivier…
Sei que alguns morreram porém nem todos conseguiram.
Um grande abraço com muitas saudades de vocês e do meu querido Postinho.
tumminelli 27-5-04 20:56 …
Esse posto aparece bem no filme “Bonga o Vagabundo”, com Renato Aragão (sem os Trapalhões) do inicio dos anos 70.
Legal a foto!
Abs
Roberto
twg 27-5-04 23:03 …
amei esse flog
frederico_mendes 28-5-04 9:39 …
Sherlock da historia recnte da nossa cidade. Grande aulas e precisas deduções!
abs
gabriel_andrade 28-5-04 18:24 …
O posto continua firme e forme e agora sempre q for passar lá não vou mais olhar ele como um posto qualquer, isto porque agora sei da história daquele local:)
abraços
seco_ 29-5-04 4:15 …
Excelente foto André !!!
abraços
reiarthur 30-5-04 6:16 …
Ê parceria de sucesso ! Juntando estes dois daria para escrever alguns livros de automobilismo e sua história !
andreleblon 3-6-04 1:38 …
Qdo penso que ja vi tudo, você aparece com uma foto completamnete diferente das outras.
Parabéns André por esse site que é tao maravilhoso.Eu posso parecer repetitivo nos elogios mas toda vez que o visito sempre descubro algo novo para mim.
É imprecionante que até a arquitetura de um posto de gasolina da epoca tinha o seu charme.
Me lembro bem do postinho que eu tinha qdo criança que possuia uma parte de plastico transparente imitando uma vidraçca e com o emblema da Esso.Ele era diferente desse pois era da decada de 60, mas tb tinha seu charme.
Abraços a todos
André

Um comentário em “Postinho,final dos anos 40”

  1. Era tudo muito lindo! A yamaha 350, fazedora de viuvas, se chamava de Cadeira Elétrica, e vc esqueceu da Honda 500 For e a Suzuki 750. Lembro que quem tinha uma Suzuk 750 na época, era um dos irmãos, dono de uma representante Suzuk na Marques de São Vicente onde todos consertavam motos lá. Curti muito o Postinho já um pouco mais tarde (nasci em 54), e na época, saímos de lá direto para a Curva do Calombo, na Lagoa, lembra? E quando sujava lá, íamos para o Auto da Boa vista, e chamávamos de Malucos e Irresponsáveis aqueles coroas que passavam devagarzinho pra ver o que estava acontecendo com tanta gente reunida, até a chegada da Polícia. Tive até um amigo que para não ser preso, mergulhou na Lagoa. Mas também, conheci bem a curva do trampolim na Gávea e vi algumas corridas no circuito da Barra, na curva do S, na Praça do Ó, e que vc, já deveria ser um pouco mais velho. Quando começou a sujar o Postinho, íamos para um barzinho na rua de traz, esquina com a Prudente de Moraes, e depois só restou mesmo o Arpoador. Que pena que tudo acabou, mas vou lembrar sempre, pois nasci e cresci no Leblon, na Rainha Guilhermina, onde chegávamos a armar rede de volei na rua, e quando vinha um carro, tinhamos que abaixar a antena para conseguir passar por baixo da rede. Era muito bom!

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