Mirante do Pasmado – final dos anos 70


 
Nossa foto mostra o Mirante do Pasmado logo após a sua inauguração em março de 1977 após quase um ano de obras, dificultadas principalmente pela estrada de acesso, que teve que ser construída mediante taludes e cortes no relevo complexos para suavizar a subida, que após inciadas as obras ficou íngreme e perigosa para o uso turístico imaginado, segundo os engenheiros da prefeitura, mesmo com pavimento em concreto nos dias de chuva os carros teriam dificuldade em alguns trechos. Foi dinamitada um grande rocha e construídos 300 metros quadrados de cortina atirantada para ajudar segurar a encosta.
O Mirante fazia parte dos planos do recém criado município do Rio para criar novos pontos turísticos e revitalizar os antigos. No local tomado pelo capim colonião e algumas poucas árvores que germinaram por conta própria desde a remoção da favela nos anos 60, o município iniciou as obras em março de 1976,  com mais de 1.600 metros de área pavimentada por bloquetes hexagonais foram plantadas 54 árvores nativas da mata atlântica como ipês brancos e amarelos, 30.000 metros quadrados de grama, instalados 25 bancos “rio antigo”, implantados 12 postes “chapéu chinês” da peterco, e 22 postes “padrão rio” de 9 metros, todos usando o vapor de mercúrio como veículo luminoso. No mirante foi colocado um grande mastro com 20 metros de altura com a bandeira do Brasil.
O mirante só foi uma realidade graças a perspicácia de Lotta Macedo Soares, logo após a remoção da favela a primeira intenção do EGB era de ajardinar toda a área, com a desapropriação total da área, antes invadida após o término das obras de abertura do túnel do Pasmado nos anos 50. Porém rapidamente anunciou-se a construção no local de um grande hotel com mais de 350 apartamentos menos de dois anos de removida a favela, inclusive com a assinatura do contrato de venda de toda a área. A licitação realizada em fevereiro de 1966 foi ganha  pelo preço de 8 milhões de dólares (quanto seria em valores de hoje !!!!!!????!!!!), pela empresa SERVITEC, que como nos contratos antigos da Light, rapidamente o passou para a cadeia de hotéis Hilton.
Rapidamente o negócio começou a ser contestado não obstante a promessa de parte da renda do hotel ser convertida para construção de casas populares e área franqueada ao público, além de argumentos pueris como a venda de produtos brasileiros pela dezena de lojas do hotel. A construção, projetada por Henrique Mindlin, planejada para ter forma de pirâmide rapidamente começou a ser contestada pelo impacto que geraria na paisagem e rapidamente os americanos “desmentiram” a construção de um estabelecimento da rede. Entre indas e vindas Lotta provocou um incidente de constitucionalidade, mencionando o Art. 44 da constituição do antigo EGB,  que distava que “imóveis dos estado só poderiam ser doados, cedidos, permutados e vendidos mediante lei específica que autorizasse” e isso logicamente não foi feito. Rapidamente o hotel  começou a fazer água, inclusive com a recomendação de apuração de responsabilidade pelo ato ilegal e abertura de CPI na Câmara de Deputados do EGB.
Após o negócio ter sido melado, planejou-se instalar o Planetário no local do Mirante, sendo preferido o terreno da Gávea, destinado curiosamente para habitação popular, o que vem assombrando o planetário até hoje por causa de dívidas da COHAB que ainda é proprietária do terreno.
Em 1970 tentou-se novamente entregar o morro para um grupo hoteleiro, não obstante dois meses antes o EGB ter licitado um plano de urbanização como parque público, novamente posto a pique, desta vez por ninguém ter aparecido.
Antes que houvesse uma terceira tentativa o arquiteto Jorge Machado Moreira por meio de telegrama ao governador Negrão de Lima, com cópias para o CREA, IAB e Clube de Engenharia contestava qualquer construção no morro. Graças a este telegrama foram criadas comissões que desaconselharam o “uso do morro por uns em detrimento de todos“. A ideia de venda da área e construção de qualquer instalação impactante foi torpedeada por gente como Burle Marx e Lúcio Costa.
Em 1972 já no governo Chagas Freitas do EGB a ideia de construções no morro foi sepultada de vez, após 8 anos de tentativas, protestos, recuos administrativos, ou seja, o assunto foi amplamente discutido!!!
Porém passados 49 anos desses fatos o Morro do Pasmado está novamente em risco, por ato da Múmia Universal que se diz prefeito e uma nebulosa associação privada, anteriormente presidida por um dos grandes especuladores imobiliários da cidade, que não está mais entre nós desde o segundo semestre do ano passado.
Essa associação quer erguer no local um memorial dedicado ao Holocausto, usando para isso um projeto que foi idealizado para ser feito no nível do mar e com essa característica possui um maciço obelisco com altura ainda maior que a do mastro, além de uma enorme instalação ao nível e abaixo do solo causando a remoção de praticamente todas as árvores plantadas em 1977.
Embora o Pasmado seja considerado não edificante desde 1983 pela lei orgânica do município a Múnia Universal, já no meio de um tiroteio entre o CAU, IAB, Iphan, em 2018 expediu uma Lei Complementar revogando o Art 17 da Lei Orgânica, revogação essa que está sendo questionada pelo MP, como antes foi questionado Decreto de 2017 com igual finalidade.
A tal associação, com medo que a Múmia volte para seu sarcófago ano que vem, está inciando as obras ao arrepio da discussão e da legalidade do ato. E com agressividade vem defendendo seus nebulosos interesses, afinal, toda a área do Pasmado com enorme potencial especulativo foi liberada para a construção civil.
Para tal a Múmia Universal  fez até um show gospel para a arrecadação de fundos, qual o interesse político do prefeito para macular área  considerada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO e com tombamento federal???? Qual ?????
Para entender mais sobre o assunto:
http://www.galeriadaarquitetura.com.br/Blog/post/mudanca-de-local-do-memorial-as-vitimas-do-holocausto-no-rio-de-janeiro-e-criticada
http://www.caurj.gov.br/transferencia-do-memorial-as-vitimas-do-holocausto-pode-alterar-paisagem-patrimonio-da-humanidade/
http://www.soniarabello.com.br/rio-mirante-do-pasmado-totem-de-irregularidades-parte-no-iphan/?fbclid=IwAR0hlwwelEGtNIl6uh2FTBh67UzL8EJFy3Tvbg7vBvk9aQfYc6RQzQu-Pkk
http://urbecarioca.com.br/2019/02/sim-ao-museu-do-holocausto-nao-no-morro-do-pasmado.html
 
 

17 comentários em “Mirante do Pasmado – final dos anos 70”

  1. As pessoas envolvidas precisam entender que os críticos não são contra um Monumento ao Holocausto, mas sim contra o fato deste projeto ser erguido ali no Pasmado.
    Há outros locais na cidade para isto.

  2. A Múmia Universal deveria construir o monumento na favela da Providência, onde há anos ele desenvolve o projeto Cimento Social, já que ele gosta tanto de lá.

  3. Creio que esta escolha está relacionada à proximidade de uma Sinagoga que existe entre a Rua General Severiano e a subida para o mirante.

  4. Nada contra o reconhecimento do holocausto como algo que existiu e a injustiça que significou, mas porque não construir ali um momumento aos mortos, desalojados e refugiados palestinos que são vítimas do sionismo na Palestina, afinal a comunidade árabe brasileira é tão importante quanto a judia.

  5. Ninguém consultou a população quando se construiu (com dinheiro público) o Museu do Amanhã no Cais da Praça Mauá.
    Ninguém se mobilizou para salvar o Museu Nacional durante as décadas de abandono que culminaram no seu incêndio e completa destruição.
    Ninguém se preocupa com a “alteração da paisagem natural” que as antenas no alto do Sumaré, as estações do bondinho no Pão de Açúcar ou a presença do quiosque da Vista Chinesa também representam.
    Ninguém protestou em favor da “laicidade do Estado” e contra a presença de um símbolo religioso cristão no alto do Corcovado.
    Ninguém se preocupa com o desmatamento e as vidas do micos que a expansão diária das favelas provoca.
    Ninguém frequenta o Mirante do Pasmado, que nunca passou de mictório de taxistas e de motel dos amantes mais afoitos.
    Ninguém contesta o Monumento a Zumbi dos Palmares na Praça Onze, que homenageia uma figura “histórica” cuja existência é duvidosa.
    Ninguém se importa com o pau de bandeira da mesma altura do obelisco que JÁ ESTÁ no Mirante do Pasmado.
    Ninguém tá nem aí para museus e monumentos que homenageiam as memórias de outras minorias oprimidas, como o Memorial dos Pretos Novos; o Museu do Negro na Igreja de São Benedito, o Cais do Valongo ou o Museu do Índio.
    Agora temos uma mobilização organizadíssima, tocada por “líderes comunitários” de esquerda contra o ÚNICO monumento em memória às vítimas do Holocausto. Que não celebrará apenas as vítimas judias, mas TODAS as vítimas do nazismo.
    Curioso, não?
    Agora esquerdista resolveu zelar pelo dinheiro dos impostos. Ignorando com a cara de pau que sempre lhes foi característica que o Memorial está sendo construído com recursos PARTICULARES.
    Clamam por memoriais aos negros e índios, sem jamais terem posto suas patinhas nos já citados museus e memoriais existentes.
    Adoram falar em Educação, Cultura, Paz, Antifascismo etc., mas querem impedir a construção de um espaço de reflexão CONTRA a desinformação, a incultura, a guerra e o nazifascismo.
    Cara de pau é pouco! É preciso chamar as coisas pelos seus devidos nomes:
    Vocês são ANTISSEMITAS! Vocês são RACISTAS SELETIVOS!
    Vocês são uns RATOS.

    1. Sua acusação de antisemitismo é grave, e a retratação de quem acusa costuma ser mais grave ainda.
      É muito engraçado ver o histerismo dos defensores do pirulito do Bispo, quando todos os maus feitos do processo admistrativo, do parecer monocromático do IPHAN, da não desafetação de praça pública antes de cessão para entes privados estão vindo a tona.
      E para quem acusa os outros de racistas, o seu desprezo, explícito no seu texto, por negros, índios etc.. como pessoas dr segunda classe mostra que você tem problemas.
      As forças ocultas que costumam lutar para destruir essa cidade esperneiam, acusam e ameaçam quando são desmascaradas.
      Amigo, continue nos chamando de antisemita, eu e meu colega que cuidará do caso vamos apreciar muito!

  6. Sr. André, sigo este blog há 15 anos. Aprendi muito sobre nossa cidade, me emocionei várias vezes e também ri muito com os comentários, o Sr. e os seus amigos são adoravelmente bem-humorados, até para reclamar, com justa razão, da criminosa falta de preservação das belezas arquitetônicas do Rio. Depois de tanto tempo, já me sinto um pouco amiga de todos, então resolvi me apresentar. Obrigada pelos 15 anos de cultura e diversão, e que venham muitos mais!

  7. Acho que meu comentário ficou meio deslocado após o comentário desagradável do leitor anterior, lamento. Mas meu carinho e admiração estão valendo. Abraços

  8. A fé cega. O Victor está confundindo desejo de preservação dos espaços públicos da cidade com antissemitismo. Ninguém aqui é antissemita ou contra a construção de monumentos. O que queremos é respeito com a cidade, que começa com protesto contra novos monumentos em espaços inadequados e prossegue numa futura e possível retirada desses citados pelo Victor. É só isso, nada mais que isso!

  9. Alexander Solzhenitsyn, em seu livro “O Arquipélago Gulag”, informou a um mundo incrédulo que os “bolcheviques” (pesquisar a etnia) assassinaram sessenta e seis milhões de vítimas (cristãos) na Rússia entre 1918 a 1957.

  10. André Decourt, comento ocasionalmente em seu blog e li todo o conteúdo da postagem. Seus posts são bem cuidados, minuciosos, esclarecedores, e isentos de qualquer viés político Daí o comentário do Victor foi inadequado e porque não dizer grosseiro. Ele inclusive forneceu todos os elementos para que possa processa-lo criminalmente com fulcro no Artigo 140 do CP, e você obviamente sabe disso. Resta saber a quem ele se refere quando escreve “vocês”. Acho que ele misturou “alhos com bugalhos”. Tem razão em quase tudo que alegou, mas como todo sionista que se preza, atribui ao anti-sionismo “todos os males do mundo” e evidente “culpa os outros” por tudo o que não seja de seu agrado. ### No comentário das 21:07, tem razão o comentarista quando menciona o número de cristãos mortos por Jossif Vissarionovich, e entretanto há imbecis que veneram esse e outros assassinos como Fidel Castro, Ngho Din Diem, e Mao Tsé Tung. Nelson Rodrigues certa vez afirmou: “Os idiotas vão dominar o mundo. Não porque sejam bons, mas porque são muitos”. O Brasil tem muitos idiotas, mas chegará o dia em que não haverá nenhum.

  11. Os dois prédios em construção ao fundo da primeira foto, se eu não estiver enganado compõem a matriz da IBM.

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